terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Percevejo e a Esperança

Saiu uma matéria na Folha, que explica esta fábula que escrevi há algum tempo: Pesquisa mostra lado negro do otimismo


"Em mais uma noite insone e cheia de percevejos mais confiantes que eu entrando pela janela, uma brincadeira com meu saco cheio dos conselhos de autoconfiança."


Num edifício de cidade
Onde verde já não há
Dois bichos que são verdinhos
Acharam de se encontrar
Na janela dum apartamento
Onde um banquete de flores
Secava num quarto escuro
E haveria de então salvar
A fome de um dia duro

Sabendo que era ocupado
(era prudente observar)
Por um gigante mal acabado
Certamente o dono do lar

Viram-se preocupados
Na dúvida se iam entrar
- Ora, sou um percevejo"
- E eu uma esperança
Que humano em sã probidade
Vai tomar a liberdade
De vir a nós dois matar?

O percevejo sabido
Sabia que o seu cadáver
Era por demais fedido
E a esperança a fiar
Que homem nenhum tem coragem
De se meter com o azar

Pois lá foram os dois insetos
a esperançosa esperança
E o percevejo perseverante
Certos de nada temer
Pousaram perto da estante
Onde secava o buquê

O gigante incomodado
Tascou-lhes umas chineladas
Sabia que, resfriado
não provaria a fragância
do cadáver esverdeado

E baforou o seu cigarro
sem a menor elegância
Pelo seu feito: orgulhoso
Pois matara o fedorento
e o horrendo gafanhoto

MORAL DA HISTÓRIA: Autoconfiança é bom, mas não esqueça de avisar aos outros.

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